quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Música Eletrônica Erudita - Manvantara

Ainda falando um pouco mais sobre a música eletrônica, não se pode imaginá-la limitada apenas aos ruídos (tecnicamente chamados de massas sonoras), ou mesmo à música concreta. Ela se desenvolveu sob várias formas, incorporando o conceito das massas sonoras como signos, criando o que podemos chamar de esculturas sonoras ou objetos sonoros. Para os ouvidos mais imaturos artisticamente, ouvi-la é um desafio e é comum expressões como “isso é música?” durante sua audição. Mas há que se observar que a arte necessita da experimentação para se desenvolver, sendo que a erudição, aos olhos dos filósofos antigos e modernos, se desenvolve através do conhecimento das artes, ciências e filosofias, ou seja, arte não é diversão apenas, é uma forma de perscrutar a consciência humana.

No exemplo abaixo, temos uma obra eclética, que se utiliza de elementos eletroacústicos, eletrônicos, tonais e atonais, cujo fim é eminentemente estético, ou seja, expressa essencialmente uma experiência musical baseada em um conceito filosófico conhecido por Manvantara.


Pierre Schaeffer e a Música Eletrônica

Acho curiosa a forma como a música eletrônica se desvinculou da experimentação erudita no imaginário popular. Hoje, quando falamos em música eletrônica, ela fica associada a gêneros populares dançantes, muito mais originários da disco music do final da década de 1970, do que verdadeiramente da música eletrônica. O mais interessante é que isso ocorreu muito rapidamente, não levou mais que 20 anos, o que demonstra que o conhecimento musical do senso comum é muito limitado. Aqui nem se pode falar em memória, dado que é bem provável que a música eletrônica primordial nunca tenha feito parte da memória coletiva.

Mas o fato é que a música eletrônica é muito mais do que aquilo que se ouve nas raves. A verdadeira música eletrônica chamava-se originalmente música eletroacústica. Eletroacústica, pois nos primórdios, os sons não eram produzidos eletronicamente, apenas capturados e tratados eletronicamente, então, era necessário um dispositivo acústico para produzi-los. Com o advento dos computadores, sintetizadores, samplers e diversos outros dispositivos eletrônicos, o termo música eletrônica começou a ser introduzido. Não se pode negar que os instrumentos eletrônicos sempre tiveram um lugar de destaque na música popular, afinal, o pop e o rock já nascem usando guitarras e aplicando distorções causadas por equipamentos eletrônicos. Não podemos esquecer também do famoso Moog (e depois o Minimoog), lançado na década de 1960. Mas o fato é que música eletrônica na década de 1980 era sinônimo de experimentação erudita, muitas vezes associada à música concreta.

Antes de ouvir o exemplo abaixo de um dos mais importantes expoentes dessa vertente, Pierre Schaeffer, é importante recordar que música é uma linguagem e, como linguagem, se utiliza de signos organizados para transmitir algum tipo de ideia, seja ela puramente estética ou mesmo diretamente cognitiva. Desta forma, organizar ruídos diversos, tratados eletronicamente e compostos em estruturas esteticamente observáveis (caso abaixo), desde a música concreta é considerado música.

Para mais informações, recomendo a Wikipédia.


terça-feira, 18 de março de 2014

Interpretando o Pi

Esse é um outro exemplo de processo criativo. De fato, a música tem muito a ver com matemática, não exatamente no que tange ao aspecto formal da linguagem, mas no aspecto neuro funcional. Há estudos que indicam que as áreas do cérebro que são ativadas pela música e pela matemática têm mais de 80% de intersecção, ou seja, as duas disciplinas operam na mesma região cerebral.

No vídeo abaixo, o compositor associou os números às notas musicais de uma escala comum e criou uma melodia baseada na constante Pi. A partir daí, ele aplicou a teoria musical e desenvolveu um pequeno poema "músico-matemático."

Compondo com Pássaros

É comum as pessoas atribuírem à arte algo de misterioso ou esotérico, mas, como toda disciplina humana, ela é baseada em aspectos mentais naturais, que todos têm acesso. O que talvez possamos dizer que diferencia a vocação do artista é a forma de observar e interpretar a realidade, conferindo algo da sua sensibilidade e sentimento. Como muitos têm dificuldades em lidar com os próprios sentimentos, até por uma questão de educação, talvez essa habilidade do artista possa parecer maior do que realmente é, mas eu acredito que vai chegar o dia onde todos terão mais familiaridade com isso, pois, sem isso, o recalque emocional da nossa sociedade vai se tornar a nossa ruína.

Sob o aspecto musical, o processo compositivo é bem menos místico do que parece. A parte interessante é que, por ser um processo bastante artesanal, cada compositor tem sua forma de fazer as coisas, o seu processo criativo. Em termos básicos, parte-se de uma ideia, uma observação, um conceito, uma impressão, uma sensação, etc. Aplica-se então os conhecimentos da teoria musical, qualquer que seja o estilo ou "região" da história a que se está referenciando, como combinação de notas, harmonia, contrapontos, séries, etc. Também pode-se não referenciar nada e criar uma nova forma de expressar-se sonoramente.

O vídeo abaixo é um bom exemplo de como funciona o processo criativo. É bem poético, sensível e belo. No caso, o compositor se intrigou com uma foto de pássaros e criou um pequeno poema musical.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Villa - Um Impressionista Impressionante

Como citado em um post abaixo, o impressionismo foi um movimento de ruptura. Historicamente, ele buscava romper com as regras artísticas da época, mas mais que isso, ele inseria fortemente os aspectos esotéricos na arte, não no seu sentido estrito, mas no seu sentido psíquico. Os impressionistas conseguiram levar à interiorização da arte, dado que ela não mais representaria aspectos realistas do mundo, mas a visão do artista sobre a realidade, ou talvez, usando um termo mais adequado, a "impressão" do artista frente à realidade.

Alguns deles deflagaram o movimento e outros o desenvolveram soberbamente. Certamente, no DNA de um brasileiro sempre vamos encontrar o toque de Villa Lobos, um impressionista impressionante. Como todo brasileiro, ele teve que lutar contra a ignorância artística e a mania da nossa elite em denegrir nossos expoentes, mas a arte dele venceu as fronteiras e, assim como nossa arquitetura, surpreendeu o mundo.

De fato, as melhores orquestras para se tocar Villa Lobos são as brasileiras, mas a interpretação abaixo da Orquestra Sinfônica de Londres é bem cuidadosa e vale a pena, até porque, essa obra é épica e muito poderosa em termos de gerar impressões na mente de qualquer pessoa.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O Mestre da Fuga - J. S. Bach

A linguagem musical é vasta e diversa. Muitos dos conceitos que apresento aqui não podem nem devem ficar ensimesmados, ou fechados em seu próprio significado. Os artigos que publico como "Noções Básicas" são exatamente isso, o básico, o chão de onde se podem alçar os voos da compreensão.

Formas musicais podem ser tão complexas a ponto de se tornarem teses de mestrado ou doutorado. Muitas vezes, é comum confundir forma, gênero e estilo. De fato, saber diferenciar isso é bem acadêmico e talvez até desnecessário para quem quer apreciar a arte musical. É o caso da Fuga, que alguns chamam de estilo, outros de forma e outros ainda de gênero. O que importa saber é que um dos maiores, senão o maior, expoentes desse estilo foi J. S. Bach.

A Fuga é um estilo contrapontista, desenvolvido no período barroco, onde uma melodia é repetida por "vozes" diferentes com um certo "atraso" entre elas, o que dá uma impressão de entrelaçamento melódico ou um eco. Note que, no período barroco a harmonia moderna estava em seus primórdios, sendo que os encontros entre as notas tocadas por vozes diferentes em um contraponto acabou por se tornar sua gênese.

A obra abaixo de Bach é um tema e variações, forma básica e necessária para uma Fuga. Uma dica aqui é que não se consegue ouvir um contraponto de forma integral, pois nosso cérebro tende a separar as coisas, então, o normal em um contraponto é escutar cada voz individualmente, alternando de voz em voz, portanto, ouvindo uma melodia por vez, alternando-se rapidamente entre elas. O visual do vídeo abaixo ajuda a entender o conceito de Fuga que, resumindo, pode ser considerado um contraponto imitativo.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O Tema & Variações - Brahms Op. 56a

A primeira forma que vou apresentar é uma bem fácil de se entender e ouvir, o Tema e Variações. Ela tem sido usada por praticamente toda história da música ocidental, mas é bem mais evidente no que tange ao aspecto formal à partir do renascentismo. É bastante simples de ouvir, pois, em geral, as partes são bem claramente destacadas. Basicamente, apresenta-se o tema, que pode ser uma parte pequena com alguns compassos, ou toda uma exposição de um ideia completa, como na obra abaixo. Em seguida, as partes que se seguem são variações diversas que sempre remetem de alguma forma aquela parte inicial, que denominamos como exposição do tema.

Para apresentar essa forma, trouxe uma obra belíssima de Brahms, onde ele toma um tema de Haydn e faz uma obra prima orquestral, saindo de um tema extremamente pomposo e aristocrático, e transita por diversas impressões românticas. Considero uma obra profunda e emocionante, bem característica desse compositor.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Noções Básicas III - Forma Musical

Não vou conseguir ser completo nesse curto artigo na explicação referente à forma musical, pois é um tema bastante vasto, então, meu intento aqui é apenas criar um entendimento básico e predispor o leitor a tentar observar esse aspecto da música em suas próximas audições.

Quando falamos de forma, é muito comum associar o termo ao nosso sentido visual. Provavelmente, isso se deve pela maneira como fomos instruídos na escola, ou seja, muitos de nós ouvimos falar de forma por conta da geometria. Com isso, falar de forma pode nos remeter a quadrados, triângulos, tetraedros e etc. Também experimentamos a forma quando nos relacionamos com as artes visuais, em especial, a escultura, design e arquitetura. Minha proposta é partir daí para entender o conceito de forma musical.

Vou partir da arquitetura. Quando olhamos para uma obra arquitetônica moderna, é muito comum que separemos as partes da construção e as associemos a formas geométricas mais básicas, como quadrados ou retângulos. Por exemplo, tomemos o Palácio do Planalto, onde temos uma série de sobreposições de estruturas retangulares, como o formato do prédio, a sua cobertura, seus vidros, a rampa de acesso e o espaço entre as colunas quando visto de frente, em contraponto com o próprio formato das colunas quanto vistas de lado, com linhas curvilíneas que se repetem coluna a coluna. Quem conhece o prédio consegue facilmente identificar esses elementos que eu descrevo.

Na música não é muito diferente, apenas devemos transportar essa interpretação visual para a auditiva. Note que, ao contrário da visão, que tem uma impressão integral independente do tempo, a música é totalmente dependente do tempo, então, identificar formas musicais em sua essência é uma experiência de ouvir os conjuntos de sons em relação ao tempo. Existem quadrados e triângulos na música? Essencialmente não. Mesmo que se possam estabelecer analogias, na prática não existem. As estruturas básicas da forma musical são conjuntos de ritmo, melodia e harmonia. Em música contemporânea, podemos acrescentar as massas sonoras e aspectos timbrísticos, mas vamos pelo básico por hora. A composição musical associa esses elementos em estruturas mais ou menos complexas, as quais podemos identificar como partes da música, como fizemos com a descrição do Palácio do Planalto.

Em músicas mais tradicionais, é comum para aquele que tem o ouvido menos treinado identificar a forma através da melodia ou do tema. Normalmente, um ou mais temas tendem a se repetir ao longo do tempo, seja na mesma forma como foram apresentados na primeira vez, como com alguma variação. Na música popular, é comum as pessoas saberem o que é estribilho (ou refrão), sendo que o estribilho nada mais é do que uma das partes da forma da música em questão, que normalmente, tem uma parte inicial que é apresentada antes do estribilho e que conduz a música para esse estribilho, como uma espécie de auge.

A forma musical é costumeiramente analisada através de letras maiúsculas, então, considerando uma forma muito comum usada na música popular, a canção, podemos analisa-la como A-A-B:A-A-B..., onde A é uma parte da música (não falo de letra aqui, apenas de som) que, normalmente na canção, se repete uma vez e depois é seguida pelo refrão B que, na forma original, não se repete. É comum na música popular o conjunto das partes A e B se repetirem algumas vezes até que a música termine.

Há muitas outras formas muito mais interessantes e complexas do que a canção. Podemos citar aqui a sonata, rondó, tema e variações, dentre outras, mas vou apenas citá-las neste momento, deixando para expandir esse tema nos próximos artigos.

Até lá.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Brahms - Quarta Sinfonia - Terceiro Movimento

A quarta sinfonia de Brahms é tida como talvez sendo a maior de todas elas. Difícil afirmar, pois, como disse, Brahms é um desses compositores que tem a mão dourada. De qualquer forma, mesmo nos movimentos mais alegres, podemos notar a forma como ele recria a orquestra e a integra em um todo indivisível. Um dos pontos altos desse movimento ainda é a suavidade das cordas, mesmo sendo uma peça com tempos bem marcados. Note também como a percussão não destoa ou se sobressai de forma impiedosa, ela também permanece integrada ao todo holístico. Brahms é realmente emocionante.

O Mais Impressionista dos Românticos

É interessante como algumas características importantes de um compositor muitas vezes passam desapercebidas, talvez por serem pouco formais, ou menos evidentes, ou ainda, talvez por não serem características de um determinado período, portanto, nem sempre entram nas análises técnicas. Brahms para mim é um desses compositores com esse tipo de "tempero" pouco percebido. Ele foi considerado um compositor conservador, pois tinha muita preocupação com o formalismo clássico, muito embora, ele tinha uma expressividade impar, talvez um dos mais expressivos do período. Mas, como disse, para mim, ele tem um "tempero" especial que é o uso das combinações timbrísticas, coisa que vamos ver de forma muito acentuada no impressionismo. Não se pode dizer absolutamente que ele exagerasse nisso, mas ele, definitivamente, não usava a orquestra da forma como os outros faziam, ele recriava a orquestra, mesmo nas obras mais folclóricas ou dançantes. É notável a maneira como ele lida com as cordas, a suavidade que ele imprime nelas, mas o mais interessante é como ele combina os diversos timbres, fazendo com que a orquestra se torne indivisível, holística, ao contrário de muitos outros compositores desse período que claramente dividem a orquestra em naipes, cada um desempenhando uma função específica na obra. Essa visão orquestral holística é tão surpreendente que há obras com uma sonoridade que resvala no impressionismo, na minha opinião.

O terceiro movimento da terceira sinfonia é muito conhecido e eu praticamente nasci ouvindo, pois meu pai tinha um LP com os clássicos dos clássicos, onde ele estava lá. É uma obra romântica com muita popularidade e que merece ser reverenciada, pois é uma obra primíssima, com todos os elementos que eu descrevo acima, violinos fabulosos, orquestra holística, timbres quase impressionistas, temperos sutis e tudo mais.

domingo, 14 de outubro de 2012

Schoenberg e o Serialismo

O século 20 comportou não só um farto desenvolvimento tecnológico, mas também uma tremenda multiplicidade de manifestações artísticas. Sob alguns aspectos, podemos dizer que a arte ficou caótica, muitas linguagens se esgotaram e outras tantas foram criadas. Apesar de muitos dizerem que a arte musical se perdeu pela infinitude das possibilidades artísticas criadas pela tecnologia, para mim, isso é uma bobagem, pois só se perde no infinito aquele que não sabe para onde ir, o que quer dizer ou que não tem algo realmente profundo para ser dito.

Em meio a esse ambiente vasto, aparece Arnold Schoenberg, um judeu austríaco com uma forte tendência esotérica (talvez mais supersticioso que esotérico), que viveu os problemáticos anos das grandes guerras (as duas). Ele foi o criador do dodecafonismo e, na minha opinião, ele o fez em função de sua fascinação pela numerologia e por sua influência cabalística judaica. Para entender um pouco o dodecafonismo, temos que entender a escala musical ocidental. Aprende-se quando criança que a escala ocidental tem 7 notas, dó-ré-mi-fá-sol-lá-si, chamada escala diatônica, mas não é bem assim. Além das 7 notas naturais da escala diatônica, temos também 5 notas intermediárias, donde tiramos a chamada escala cromática (isso em se falando de escala temperada, pois tem outras variações que não vou citar aqui). O importante para o dodecafonismo é saber que a escala cromática tem 12 notas, ou semitons (7 + 5 = 12), sendo que, essa palavra vem do grego (dodeka = doze e fonos = sons). Na forma dodecafônica, a regra básica é que não se pode repetir um semitom antes de tocar todos os outros, ou seja, toda "melodia" tem 12 notas diferentes, chamada de série que, somada a outras regras musicais, compunha a estrutura da obra. O dodecafonismo evolui para o serialismo integral, muito embora, ambas as formas são conhecidas por serialismo, dado que a base delas é a série de 12 notas. Essa linguagem é bastante hermética, quase um tipo de matemática, tendo sua audição difícil para os "não iniciados" nas artes musicais, pois os "não iniciados" têm uma compreensão musical simplória, baseada em costumes harmônicos básicos ocidentais, fartamente usados na indústria da mídia, muitos deles com objetivo de embotar a capacidade mental mesmo.

De qualquer formal, sempre é bom saber que existe, que tem forma, lógica, significado, lirismo e arte. Pierrot Lunaire é uma obra importante e significativa desse período. Como disse acima, para o vulgo, não é fácil de ouvir, mas se você não tentar, nunca vai entender. Abaixo um excerto dessa obra.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Jazz Fusion

O Jazz Fusion, também chamado simplesmente de Fusion, é um gênero que, na minha opinião, não obrigatoriamente é Jazz propriamente dito. De fato, ele começou com músicos de Jazz e teve muita ascensão na década de 1970, permanecendo até hoje como um estilo bem eclético, às vezes hermético. Como próprio nome diz, é uma fusão de estilos, cuja base em princípio é música instrumental livre, mas no fundo, é uma tremenda salada mista, comportando qualquer mistura. É o melhor exemplo de liberdade criativa e eu diria que tem esse nome justamente por não se encaixar em nada muito específico.

Um dos expoentes desse estilo foi Chick Corea, um tecladista estadunidense que tocou com Miles Davis e despontou na arena musical como um dos músicos mais influentes desde Bill Evans.

domingo, 15 de julho de 2012

Pandeiro e Koto

A arte sempre pode nos brindar com encontros inusitados, seja de personalidades, seja de combinações de instrumentos. No vídeo abaixo, vemos uma mistura de um Brazuca percursionista e uma aluna japonesa. Pandeiro e Koto, muito interessante, mesmo que com pouco swing, pois, como é uma apresentação em um templo budista, a tradição certamente deve ter tido lá sua influência...

terça-feira, 5 de junho de 2012

Virtuosismo Incomparável - Yamandu Costa

A música regional já produziu muitos violonistas no Brasil, alguns deles diferenciados, mas a figura abaixo transcende o diferenciado. Há um bom tempo atrás, tivemos uma novela na falida Manchete, chamada Pantanal, que falava um pouco dessa tradição com outros grandes músicos, Almir Sater e Sérgio Reis, sendo que, Almir fazia o papel de um violonista virtuoso que tinha pacto com o capeta. De fato, quando vejo o Yamandu, lembro desse papel do Almir, muito embora, apesar dele tocar como se tivesse esse pacto, sua índole é carregada de simplicidade e paz, como podemos ver em suas palavras no vídeo. De fato, a impressão que eu tenho é que ele já saiu da barriga da sua mãe carregando um violão, pois por vezes é muito difícil identificar onde termina o Yamandu e onde começa o violão; para mim, quando ele está tocando, é uma coisa só. Eu o considero um dos maiores violonistas da atualidade, senão o maior.

Egberto Gismonti

Podemos identificar dois movimentos claros de experimentalismo no Brasil. Um vem da música erudita, com alguns expoentes absolutamente desconhecidos por essas águas; e o outro vem da música instrumental, normalmente baseada nas músicas regionais, cujos nomes são um pouco menos desconhecidos. Hermeto certamente é um desses experimentadores, mas temos vários outros. Infelizmente, a maioria está hoje fora do país, onde encontraram o devido reconhecimento que não tiveram aqui no Brasil, seja porque as gravadoras queriam desenvolver mercados para outras culturas mais dominantes, seja por conta da ignorância artística a qual os brasileiros são induzidos pelo nosso "maravilhoso" sistema de ensino, que aboliu o estudo das artes na formação básica.

Egberto é uma figura ímpar, seja pelo seu virtuosismo em diversos instrumentos, dado que ele é multi-instrumentista, seja pelo seu experimentalismo muito particular. Podemos dizer que ele é um cientista da música, pois ele costuma fazer transformações em instrumentos para conseguir sonoridades diferenciadas. Ele também faz releituras de obras de grandes mestres, interpretando-as de forma muito peculiar.

Abaixo podemos conhecer um pouco desse experimentador.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Fátima - Hermeto Pascoal

Mais um pouco de Hermeto para adentrarmos mais no seu ecletismo e brasilidade.

O Mago da Música

O Brasil tem muitos expoentes na música, até porque, nossa forma de criar é uma das mais livres do mundo, senão a mais livre. O que quero dizer com isso é que não nos prendemos muito à fórmulas e regras, o que nos leva a experimentar muito mais. Fruto dessa liberdade, nasceram vários magos da música, mas o maior deles na área instrumental é Hermeto Pascoal.

Algumas características de sua música são realmente únicas. Uma delas é a incorporação de elementos atonais e caóticos. Outra é o uso de qualquer instrumento como uma percussão, sendo que, isso se deve ao fato da música brasileira ter muitos ritmos e ele faz questão de enfatizar isso nas suas obras. Outra muito importante é o fraseado de suas improvisações, que são realmente novos em relação a tudo que havia até ele aparecer; ele incorpora características regionais neles, criando fraseados e clichês com uma sonoridade tipicamente brasileira.

Por isso tudo, ele é reconhecido e respeitado mundialmente. Infelizmente, no Brasil, por conta da falta de instrução musical que impera, ele é considerado louco.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Entre o Clássico e o Romântico

Explorando um pouco mais sobre Tema, apresento aqui nosso amigo Weber. Ele foi um dos primeiros expoentes do romantismo na música, muito embora, de fato, ele está localizado bem no meio, entre o clássico e o romântico, fazendo experimentações estéticas nesse novo período e se torando um dos pioneiros dele na Alemanha e no Ocidente.

A obra a seguir segue a forma Rondó, onde a exposição do tema é repetida diversas vezes durante a execução, seguida de uma variação do mesmo. A cada variação, é comum o compositor se afastar cada vez mais do tema original, às vezes variando a própria variação anterior. Nessa forma, é bem fácil achar onde está o tema e o que significa variação.

sábado, 26 de maio de 2012

A Simples Genialidade de um Mestre

Alguns de vocês podem ter pensado no Samba de Uma Nota Só do mestre Tom Jobim quando eu mencionei abaixo que podem existir temas musicais com uma única nota. Cuidado "gafanhoto", pois pessoas geniais fazem coisas geniais. Essa obra de Jobim tem algumas sutilezas; a primeira delas é que seu tema é rítmico e não melódico, até porque, a melodia básica se desenvolve com apenas uma nota. Como é rítmico, é possível tentar aqui um solfejo escrito (ta_tata_tata_ta_ta_ta_ :-))

Vou tentar ser simples, mas toda análise tem lá sua complexidade. Se pegarmos o solfejo acima, podemos dividir esse tema em três seções: a) ta_tata b) tata_ta c) ta_ta_. A parte a) é verdadeiramente o tema básico, ou seja, ele é composto de 3 notas; a parte b) é uma inversão do tema, ou seja, o tema exposto de trás para frente, uma primeira variação; a parte c) é uma variação que enfatiza o sincopado do tema, pois uma das sutilezas dele é que ele se inicia antes do tempo principal, no contratempo de um compasso anterior (eu sei, eu sei, eu ainda não passei as noções de compasso, pausa, sincopado, mas um professor de inglês também fala um monte de palavras que você não entende quando você começa a estudar o "the book is on the table").

Todo o fraseado de 8 notas pode ser chamado de "exposição do tema", pois, como disse acima, o verdadeiro tema é composto de apenas 3 notas e as outras 5 já são duas variações dele. O que vem a seguir na música é a dissertação sobre essa exposição. Mais uma obra da genialidade desse mestre é a segunda parte da música, que consegue manter a unidade estilística pela harmonia e o ritmo, pois, em termos de melodia, o fraseado tanto rítmico quando melódico é absolutamente contrastante em relação ao tema, ou seja, totalmente diferente, afinal, ele queria mostrar que "já se utilizou de todas as notas, mas no fim não deu em nada...". Absolutamente fantástico! Uma música simples e absolutamente genial.

Noções Básicas II - Tema Musical

Como citado em um post anterior, música é, essencialmente, uma forma de se expressar, uma linguagem. Quando falamos em expressar-se, claramente nos vem à mente transmitir uma ideia, um conceito ou algo parecido. Podemos fazer um paralelo aqui com a língua falada ou escrita, ou seja, quando queremos nos expressar, em geral falamos alguma coisa que tenha um sentido, um assunto ou embasamento íntegro para uma dissertação. Na língua falada, isso é chamado de “Tema.”

Se a música é linguagem, então, espera-se que ela comunique ou desenvolva alguma temática. A diferença entre o tema falado e o tema musical está no “idioma” que é usado. Quem consegue entender o que está escrito aqui faz isso por conhecer a língua portuguesa, tendo sido treinado nela por alguns anos. O mesmo pode ser aplicado à música e às artes em geral.

No “idioma” da música ocidental, o tema ficou intimamente ligado à melodia durante um largo período de tempo; praticamente desde seu início até as experimentações atemáticas apresentadas no segundo quarto do século 20. Mas tema não significa a mesma coisa que melodia; de fato, tema musical é um fragmento da melodia, como se fosse um assunto ou conceito desenvolvido por toda uma peça musical e sustentado pelos outros elementos sonoros, ou seja, assim como numa dissertação, uma peça musical gira em torno de um tema, que é desenvolvido, transformado, interpretado, repetido ou reformulado de várias formas. Note que estou falando aqui de conceitos básicos mais tradicionais, pois se considerarmos as obras mais experimentais, que trabalham os sons de forma diferente, o tema pode estar localizado em outro elemento, até porque, na música experimental pode não haver melodia.

Se é um fragmento de melodia, então o tema é composto por algumas notas em uma determinada sequência rítmica. De fato, o tema pode até mesmo ter apenas uma única nota. Em geral, um tema não tem uma quantidade muito grande de notas, até porque, isso pode criar problemas técnicos na composição, além de tornar sua compreensão muito complexa, mas isso não é regra. Nas músicas mais comuns, você vai encontrar temas variando entre 3 e 8 ou 10 notas musicais.

Para um ouvido destreinado pode ser difícil identificar onde realmente está o tema e, muitas vezes, ele é confundido com toda uma sequência melódica, especialmente se a música tiver letra, pois tende-se a misturar o significado textual com o musical. Para treinar o ouvido no idioma musical, você deve evitar músicas com letra, pois assim pode aprender a identificar os elementos puramente musicais. Musicas com letra formam um gênero que integra poesia e música, ou seja, um “idioma” misto, com características técnicas peculiares.

Agora é a sua vez. Com as noções acima, você já pode procurar as temáticas do idioma musical nas suas audições. Boa viagem!